PORQUE QUEBRAM AS ONDAS E COMO FUNCIONAM AS MARÉS – WHY DO WAVES BREAK AND HOW IT WORKS

APRENDER A LER AS MARÉS

A IMPORTÂNCIA DE CONHECER AS MARÉS É ALGO INDISCUTÍVEL PARA UM SURFISTA. É O CONHECIMENTO DESTAS QUE NOS PERMITEM CHEGAR A DETERMINADO PICO E APROVEITAR AO MÁXIMO O SEU POTENCIAL. QUEM JÁ NÃO CHEGOU À PRAIA SEM SABER A QUE HORAS É A MARÉ-VAZIA E SE DEPAROU COM UMA ONDA MOLE, COM ALGUM BACKWASH E ONDE HAVIA TUDO MENOS TUBOS? É ENTÃO QUE SE LEVANTAM QUESTÕES COMO: “A QUE HORAS É A MARÉ-CHEIA? QUANDO COMEÇA A VAZAR? QUEM ME DERA TER PODERES E CONTROLAR AS MARÉS…”

Pois é, era lindo termos poderes e controlarmos as marés (e já agora os ventos, direção e intensidade, e ainda o tamanho do swell). Infelizmente não temos esses poderes, mas temos um ainda maior, o conhecimento. E é com este poder, que não faz heróis nos filmes de Hollywood mas devia, que podemos de uma forma restrita “controlar” as marés e, consequentemente, dar uma granda surfada. A que se devem então as marés? Porque varia a amplitude de uma maré? O que são as marés-vivas? As marés são iguais em todo mundo? Estas são algumas das perguntas as quais qualquer surfista deverá saber responder, pois quem passa tanto tempo num habitat deve primeiro que tudo compreendê-lo. Foi no séc. XVII que Newton deu a primeira explicação da atração da Lua sobre as massas de água existentes à superfície do planeta Terra. Com o passar dos tempos descobriu-se que as marés ocorrem não só devido à atracação gravitacional da Lua mas também devido à atração gravitacional do Sol. Além destes dois fatores, também a rotação da Terra e a geomorfologia das bacias oceânicas vão influenciar as marés e a sua amplitude. Mas qual o astro que tem maior influência nas marés, o Sol ou a Lua? Se por um lado o Sol é maior (implica maior massa), por outro lado está mais longe da Terra que a Lua. Segundo algumas fórmulas matemáticas e leis da Física, chegou-se à conclusão que a Lua exerce urna ação dupla sobre as massa de água dos oceanos quando comparada com a ação exercida pelo Sol (isto porque a força final que gera as marés é proporcional à massa e inversamente proporcional ao cubo da distância; a massa do Sol é 27 milhões de vezes maior que a massa da Lua). O Sol e a Lua vão formar com a Terra um sistema e consoante a posição destes três elementos nesse sistema, iremos ter 2 situações fundamentais:

1) SITUAÇÃO DE ALINHAMENTO
A terra, o Sol e a Lua estão alinhados (FIG.1). A Força gravítica gerada pelo Sol e pela Lua atua para o mesmo lado, provocando uma maré-cheia com uma amplitude maior que o normal. Estamos perante as marés-vivas.


2) SITUAÇÃO DE QUADRATURA
A Lua e o Sol formam um ângulo de 90° com a Terra (FIG.2). As forças gravíticas geradas pelo Sol e pela Lua atuam contrariamente; situação de marés-mortas.



É por esta razão que quando está Lua cheia ou Lua nova as marés enchem e vazam mais que o normal (numa tabela de marés o número em frente da hora da maré representa o quanto a maré sobe ou desce relativamente ao nível médio da água do mar). A amplitude de uma maré é então muito maior quando estamos na situação de marés vivas. É o movimento de rotação da Terra que faz com que se observem em Portugal (e na maioria do globo) duas marés-cheias e duas marés vazias durante um dia (24h), o que se define por um regime de marés semidiurnas. À medida que a Terra vai rodando sobre o seu eixo, e este eixo de rotação não é vertical, um determinado ponto vai sendo mais ou menos influenciado pelo Lua/Sol e, durante essas 24 horas, ocorrem então 2 marés-cheias e duas marés vazias, respetivamente. Como já foi referido, a amplitude destas vai variar consoante a Lua que estiver. Uma mará cheia demora cerca de 6h e 10 min a vazar e mais 6 horas e 10 min. a encher novamente, perfazendo um período de 12h e 20min., que é metade de um dia lunar. Em alguns pontos do globo existem outros regimes de maré, tal como a maré diurna, que se define por uma maré-alta e uma maré vazia durante um dia (24h), caso do Pacífico, e as marés mistas, que são uma mistura das duas anteriores (por exemplo, o Mar Mediterrâneo e o Báltico não sofrem ação das marés). Para terminar e apenas como curiosidade, ao elaborar-se uma tabela de marés tem também de se ter em conta a influência do vento e as variações da pressão atmosférica (se menor, maior a maré), daí serem usadas cerca de 8700 observações num determinado ponto (ex.: porto de Cascais), que vão originar 8700 equações com 64 incógnitas. É da resolução destas que sai a tabela de marés que é tão preciosa para qualquer surfista.

NOTA FINAL:
Costuma-se dizer que durante as marés vivas vão haver ondas. Esta afirmação não tem qualquer relação científica. O facto de haver swell ou não depende dos ventos.