PEIXE ARANHA, O TERROR DAS ÁGUAS PORTUGUESAS

IGNORADO PELA MAIORIA COMO UM DOS PEIXES MAIS VENENOSOS DA EUROPA, O TEMÍVEL E PEQUENO PEIXE-ARANHA SONDA AS PRAIAS ARENOSAS PORTUGUESAS E É, TODOS OS ANOS, RESPONSÁVEL POR CENTENAS DE DOLOROSAS PICADAS ASSOCIADAS A DORES INTENSAS E DESESPERANTES E QUE, EM CASOS EXTREMOS, PODEM TER CONSEQUÊNCIAS GRAVES. APRESENTO-VOS O VERDADEIRO TERROR DAS ÁGUAS PORTUGUESAS, O PEIXE-ARANHA.

Quando se fala do habitante marinho mais perigoso para os surfistas (e banhistas), a primeira resposta é o tubarão. Uma resposta perfeitamente aceitável se pensarmos a nível geral. Mas e se esta mesma pergunta for colocada aos surfistas portugueses? Certamente que a resposta será a mesma. Mas pensemos, quantos casos de ataques de tubarão já ocorreram em Portugal? E quantos surfistas (ou banhistas) já foram “atacados” por peixes-aranha no nosso país? Mil? Dez mil? Cem mil? Sem dúvida um número difícil de contabilizar.

O peixe-aranha, Trachinus graco, é um animal solitário, pode atingir 50 cm de comprimento e tem como habitat os fundos arenosos e lamacentos. E é aqui que as coisas se tornam complicadas… Apesar de viverem afastados das praias (podem ser encontrados até aos 150 metros de profundidade) aparecem de vez em quando enterrados a poucos centímetros de profundidade para se alimentarem de pequenos peixes e crustáceos. De fora deixam apenas os grandes e protuberantes olhos localizados na zona superior da cabeça. Uma vez enterrados, permanecem imóveis e seguem atentamente as suas presas. A sua imobilidade e cor ajudam a que este verdadeiro mestre do disfarce se torne praticamente invisível… Quando as presas estão ao seu alcance, salta do esconderijo e enche o estômago que nem um lorde. A verdade é que até poderíamos viver pacificamente com estes seres se a única coisa que eles fizessem fosse estar enterrados à espera de comida, afinal pisar peixe nunca fez mal a ninguém e não tem consequência mais graves do que ficar com os pés viscosos e a cheirar mal. A questão é que os peixes-aranha têm na barbatana dorsal o seu método de defesa. Assim, quando se sentem ameaçados, erguem a primeira barbatana dorsal na qual os, três primeiros raios (de cor negra ou castanha escura) são venenosos. Estes espinhos também se encontram junto de cada opérculo branquial.

Apesar do efeito de uma picada de um peixe-aranha estar a anos-luz das consequências de um ataque de tubarão, o poder do veneno destes pequenos habitantes da nossa costa provocam dores intensas na zona afetada assim como um inchaço. Em casos graves as vítimas podem sentir vertigens, náuseas, hipertermia, vómitos, ansiedade, diarreia, cãibras generalizadas e dificuldade respiratória. Nas mulheres grávidas pode mesmo induzir o aborto. Obviamente que cada pessoa reage ao veneno de acordo com a sua sensibilidade ao mesmo, o que significa que para uns a picada pode significar uma dor insuportável enquanto para outros pode significar algo mais complicado, principalmente em casos de alergia ao veneno, caso em que a situação se pode revelar extremamente perigosa. Por isso mesmo é que, após seres picado por um destes “amigáveis” peixes, deves de imediato iniciar o tratamento. E a primeira coisa que tens de fazer é enfiar o pé na água mais quente que consigas suportar durante 30 ou 60 minutos. Apesar de parecer sádica, pois se já estamos à rasca do pé mergulhá-lo em água quase a ferver não parece propriamente a ideia mais inteligente do mundo, acreditem que esta medida é uma opção mil vezes menos dolorosa que deixara ferida sem tratamento. A água quente, ou melhor, o calor, vai diminuir a força do veneno. Caso te encontres numa praia deserta ou num sítio onde não tenhas possibilidade de fazer o referido, deves recorrer ao improviso: uma das hipóteses é aproximar um cigarro aceso à menor distância que conseguires suportar. Estes tratamentos baseiam-se num palavrão, termolabilidade, que basicamente é a decomposição das proteínas do veneno por ação do calor. Atenção que este tratamento só tem efeito se realizado durante os 30 minutos seguintes à picada. Nos casos em que esse período já passou, é necessário recorrer ao uso de analgésicos sistémicos. Apesar de ser uma situação bastante rara, pode acontecer que fique uma porção do espinho no pé do azarado que pisou o peixe-aranha. A sua remoção é altamente aconselhável. Apesar de todo este cenário parecer muito pesado, são bastantes raros os casos em que a aplicação da fervura não resolve o problema. E sendo o peixe-aranha o Terror das Águas Portuguesas ninguém se admira com o facto dele permanecer vivo várias horas depois de retirado da água e da sua picada permanecer venenosa mesmo muito tempo depois de morto, ou admira?