PREVISÃO DO ESTADO DAS ONDAS – SURF FORECAST

ALGUMAS COISAS QUE DEVERIAS SABER SOBRE COMO ESTAR NO SÍTIO CERTO À HORA CERTA

Os elementos básicos da previsão de ondas envolvem uma série de medições, tais como a amplitude e a força de uma tempestade em mar alto, a distância e o ângulo da tempestade em relação à costa, tempestades secundárias (ou “interferentes”) e as condições do tempo no litoral. O cruzamento destes dados resulta nos dois elementos fundamentais da previsão de ondas: o tamanho e o período da ondulação.
O tamanho da ondulação corresponde à distância média, em mar alto, entre a base e a crista de todas as ondas que passam por um determinado ponto estacionário num determinado espaço de tempo (uma hora é a referência para a maioria dos serviços de surf report atuais). O período da ondulação, também chamado intervalo, é o tempo (em segundos) que duas ondas consecutivas levam a passar por esse mesmo ponto. São estes dois elementos que vão determinar o tamanho, a consistência e, em parte, a formação das ondas ao longo da costa.

Em terra, o tamanho da ondulação é diretamente proporcional à dimensão das ondas que chegam à costa, o mesmo acontecendo com o período em relação ao intervalo entre as mesmas. Um tamanho maior ou menor de ondulação vai resultar em ondas maiores ou menores; igualmente, um período mais longo significa que as ondas vão estar mais espaçadas entre si, enquanto um período mais curto significa que elas vão partir com uma cadência mais acelerada.
A informação relativa ao tamanho e período da ondulação é recolhida por plataformas marítimas e por sensores de transmissão de alta tecnologia – boias – dispostos em águas costeiras e em mar alto um pouco por todo o mundo. Os dados recolhidos são depois retransmitidos via satélite para centros de processamento de informação, que a traduzem e disponibilizam aos meios especializados e grupos interessados.
À medida que as ondas se afastam do ponto de origem da tempestade que as provocou, o período aumenta, aumentando também a energia acumulada em cada uma delas. Assim, o período tem tanto a ver com a dimensão das ondas que chegam à costa quanto o tamanho do swell: para o mesmo tamanho de ondulação, um período mais longo traduz-se em ondas maiores. Assim, uma ondulação com 8 pés de tamanho e 20 segundos de período pode produzir-se em ondas entre 12 e 15 pés, enquanto uma ondulação com 8 pés de tamanho e 12 segundos de período pode, pelo contrário, produzir ondas de apenas 6 pés. As ondas são geralmente melhores quando o período de ondulação é mais longo.
O surgimento da previsão de ondas, tal como é feita hoje em dia, remonta ao início dos anos 40, quando, no âmbito da Segunda Guerra Mundial, as forças aliadas incorporaram oceanógrafos do Scripps Institution of Oceanography, localizado em La jolla (Califórnia), para prever as condições das ondas de forma a melhor poderem arquitetar ataques a partir do mar em França e no Norte de África (incluindo o desembarque na Normandia, celebrado como o “Dia D”. No entanto, a ligação entre esta ciência e o surf só se consumaria mais de 20 anos depois.
Em 1967, o big rider havaiano Fred Van Dyke começou a telefonar para a estação de meteorologia de Honolulu para saber se as tempestades no Pacífico Norte tinham atingido o seu pico, usando essa informação para determinar quando é que devia entrar em Waimea. Há quem aponte este ato isolado como o embrião dos serviços de previsão de ondas por telefone que viriam a singrar nos anos 80.
Em 1977, os surfistas e meteorologistas californianos Vic Morris e Joe Nelson publicaram The Weather, Surfer, o primeiro livro do género para corredores de ondas, um ponto de viragem a partir do qual as previsões tornaram-se parte integrante da experiência de todos os surfistas dedicados.

Em meados dos anos 80, o surfista e meteorologista autodidata californiano Sean Collins – que andava desde o início da década a trabalhar numa nova fórmula de previsão de ondas baseada em grande parte em informação do National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), obtida via fax – introduziu o primeiro sistema de surf report comercializável ao fundar o Surfline, um serviço informativo de previsões das ondas via telefone (pay-per-call). Com uma previsão de 72 horas para a área de Los Angeles e surf reports regularmente atualizados, o Surfline foi um sucesso imediato, rapidamente estendendo a sua área de cobertura a toda a costa californiana e ao litoral Este dos EUA e da Austrália. Em 1991, a empresa recebia mais de 1 milhão de chamadas.
Com o advento da Internet no final dos anos 90, os surfistas passaram a ter acesso à maioria dos dados que o Surfline usava, o que provocou uma explosão de websites especializados a nível local, tais como o Stormsurf.com no Norte da Califórnia e Swell-Forecast.com na Europa.
Em Portugal, o site mais consultado para as previsões do mar é o Windguru.
Apesar do seu inegável potencial, a previsão de ondas cientificamente assistida foi também suscitando críticas ao longo dos tempos. Já no final dos anos 70 o Honolulu Advertiser publicava queixas contra os surf reports por aumentarem o crowd nos picos de Waikiki, já que todos os surfistas sabiam de antemão quando chegariam as ondas. Em 1999, o californiano Scooter Leonard, ex-editor da revista Surfing, lamentava que as agências e sites de surf report tivessem provocado a “morte do mistério” no surf.
Como todas as conjeturas meteorológicas, o rigor das previsões de ondas diminui consoante a antecedência das mesmas. Previsões de três dias são extremamente precisas, previsões de sete dias já o são menos, enquanto previsões de vinte dias são praticamente inúteis.